domingo, 17 de outubro de 2010

Barcelos, Maratona dos "5 Cumes"

Relato: Cortesia do Sr. Baldeante

Crónica do fim se semana com 600kms de carro e QUASE QUASE ZERO de bicicleta.

Depois de 300 e muitos quilómetros pela estrada nacional cheguei a Barcelinhos. De noite, sem vivalma na rua parei no primeiro café com esplanada e assim que falei em BTT apontaram logo a direcção da sede dos Amigos da Montanha. Espectáculo!

Levantamento dos dorsais estranhamente calmo, eu e outro colega até tivemos a oportunidade de experimentar o Jersey, invulgar mas agradável. Perguntei onde eram as camaratas, assunto sobre o qual tinha previamente pedido informações, apontaram para o fim a rua e disseram: vira à esquerda é mesmo em frente... e lá fui... não era mais que um albergue utilizado pelos peregrinos de Santiago e onde havia umas camas disponíveis para o pessoal.

Depois de um jantar à base de leitão, caminha, que a viagem tinha sido longa e os 5 cumes esperavam no dia seguinte. Lá pelas 22/23h começou a ouvir-se um vendaval do catano. Passada uma hora e depois de muitas voltas na cama levantei-me e fui a janela, não era só vento, chovia torrencialmente! Adormeci ao som da chuva e acordei com o mesmo som acho que só parou lá pela hora da partida.

Entre as 8h e as 9h andei para trás e para a frente, indeciso, equipo-me? não me equipo? Os colegas que lá estavam, inclusivé dois espanhóis, resolveram não ir tal como eu. Quase vendi o impermeável novo a um colega que estava determinado a ir mas que resolveu ficar a última hora. Apesar de vermos os peregrinos de Santiago saírem porta fora com aquele temporal, nós ficamos quase todos. Sim, porque havia no albergue um casal que foi... sim, um casal e segundo consta (palavras dele) a mulher é ainda mais determinada. Saíram debaixo de uma chuva bem grossa para a partida e apenas com um equipamento de verão sobre a pele. Grandes doidos, pensei eu.

Peguei no carro e fui à procura da meta para ver a partida mas quando cheguei: chuva? nem vê-la, apenas vento. Falei com os bombeiros que disseram que o tempo ia estabilizar e o pessoal da organização que garantiu que o terreno continuava ciclável mesmo com aquela chuva. Foi a gota de água. Fui ao carro, equipei-me, preparei a água, agarrei no capacete, e fui estrear o impermeável.

Com 15 minutos de atraso, sim!, porque aqui ás 9h30m é ás 9h30m! não há cá esperas ou estás, ou estás... assim devia ser em todo o lado.

Os primeiros kms foram feitos em alcatrão, e assim que entrei na terra fui recebido com uma chuvada daquelas... os bombeiros enganaram-me pensei eu... mas lá segui. O vento era mais que muito, capaz de levar a bike de um lado do trilho para o outro, mas após uns kms já nem reparava nisso. Soprava, e eu corrigia a direcção, parecia que levava piloto automático. Lama, era mais que muita, mas nunca deixou de ser ciclÁvel. Com o pneu de trás quase careca fiquei surpreendido com o comportamento da bike, quase não fugia, o único culpado dos desvios era o vento.

O percurso foi fenomenal, subidas e descidas com muita lama e água, surpreendentemente a maioria das subidas podia ser feita em cima da bike mesmo com lama e rios de água, nas descidas era só seguir o curso da água, sim, porque havia autênticos rios de água nas descidas... e nas rectas??? nem imaginam a sensação de passar entre dois muros/pinheiros/castanheiros olhar em frente e só ver água, nem sombra de terra sólida, passar entre os muros/pinheiros/castanheiros com água e lama a chegar à pedaleira e às vezes acima desta. A bike parecia que tinha motor deslizava pela àgua com eu nunca vi, nem as mudanças falhavam na àgua, e mais!? depois de um banho destes a corrente/carretos/pedaleira ficavam quase livres de lama e a andar muito melhor, qual óleo qual quê!? venha àgua! A primeira vez achei algo estranho mas depois de algumas poças já nem pestanejava, vamos em frente não há cá desvios, venham as poças, fundas ou não, cá vou eu! Afinal de contas não ia ficar mais sujo do que já estava.

O reforço estava fenomenal quando cheguei ouvi num sotaque do porto “quero uma bola de berlim”, pensei: devo estar a perceber mal o gajo carago. Mas não, o reforço era composto de bola de berlim com creme, claro está, croissants, bananas, laranjas, garrafas de àgua e pacotes de sumo... tudo à vontadinha... e se eu estava com fome! Com a indecisão da manhã comecei a prova sem pequeno almoço, barras ou luvas, onde é que eu estava com a cabeça?!

De estômago cheio a coisa animou, o S. Pedro não dava tréguas. Dos 45kms, a maioria foram feitos debaixo de chuva e vento, e se a chuva era grossa, ainda bem que não estava frio pois se aqueles pingos se transformassem em granizo estávamos lixados.
Choveram ainda algumas pinhas e ramos, felizmente só apanhei com uma ou duas pinhas e sempre no capacete, mas vi cair vários ramos alguns bem perto. Chegado à separação, eram 10min. para as 13h, ainda a tempo de ir para os 75kms, olhei bem para mim e pensei: mais 40km ate fazia mas depois quem e que me leva de volta para casa? são mais 3h de lama até ao almoço e anda tenho 300kms de volta... decisão tomada. Fui a Barcelos para os 75kms e fiz apenas 45kms... mas que 45kms!!!

Terminada a prova dei banho à bike num fontanário, com a ajuda do bidon, carreguei a bike e reparei nesta altura que havia uma fonte bem maior onde havia colegas a literalmente mergulhar a bike para tirar a lama... muito mais rápido sim senhor.
Depois de mais uma ajuda com sotaque nortenho, cheguei ao estádio. Banho quente, almoço no estômago e mais 300 kms de volta. Para o ano se puder, volto, com ou sem chuva, e, quem não foi fez muito mal: - FOI FENOMENAL!!!

Algumas fotos AQUI e AQUI

Página do Rescaldo AQUI

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